quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE CAIR NO ESPÍRITO?


Olá pessoal do Blog Anti-Heresias, tudo bem com vocês? Deus abençoe a todos com saúde, paz e prosperidade. Trago aqui um acervo apologético de minha biblioteca para elucidar a temática aos que ainda estão engodados com isso e servir de fonte para muitos apologistas. Este tema foi muito visualizado no blog, confira a postagem AQUI. Este assunto rendeu uma trêta entre Edir Macedo e Silas Malafaia, confira AQUI. Se você nunca viu esse fenômeno neopentecostal de "cair no Espírito", tão explorado alguns anos atrás, veja AQUI um exemplo.

Compilação da revista DEFESA DA FÉ, edição especial, p.115-119. ICP 1998.

Em 1923 o missionário sueco Gunnar Vingren, um dos fundadores da Assembleia de Deus no Brasil, fora informado de que um certo movimento pentecostal começava a alastrar-se por Santa Catarina. Sem perda de tempo, Vingren deixou Belém do Pará, berço do pentecostalismo brasileiro, e embarcou para o Sul. No endereço indicado, veio ele a constatar: “Não se tratava de pentecostes, mas de feitiçaria e baixo-espiritismo”.

Embora fervoroso pentecostal, Gunnar Vingren não se deixou embair [enganar] pelo emocionalismo nem pelas aparências. Ele sabia que nem tudo o que é místico é espiritual; pode brilhar, mas não é avivamento. O misticismo manifesta-se também em rebeldias e mentiras. Haja vista as seitas proféticas e messiânicas.

Teve o nosso pioneiro, como precavido condutor de ovelhas, suficiente discernimento para não aceitar arremedo de pentecostes. Fosse um desses teólogos que colocam a experiência acima da Bíblia Sagrada, o pentecostalismo autêntico jamais teria saído do seu nascedouro.

Entre as manifestações presenciadas por Gunnar Vingren, achava-se o “cair no espírito” que, já naquela época, era conhecido também como “arrebatamento de espírito”. À primeira vista, impressionava; fazia espécie. Não resista, contudo, ao mínimo confronto com as Escrituras, e nada tinha haver com as experiências semelhantes que se acham nas páginas da Bíblia.

Irreverente e apócrifo, esse misticismo não se limitou à geração de Vingren. Continua a assaltar a Igreja de Cristo com demonstrações cada vez mais peregrinas e contraditórias. O seu alvo? Levar a confusão ao povo de Deus. No combate a estas coisas, haveremos de ser enérgicos, sábios e convincentes, mas sempre equilibrados. Através da Bíblia, temos a obrigação de mostrar a pureza e a essência de nossa crença, e a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd.3).

Neste artigo, detenhamo-nos ao fenômeno do “cair no Espírito”. Até que ponto há de ser aceito? Como lhe aferir a legitimidade? É realmente indispensável ao crescimento da vida cristã? Vejamos, a seguir, como esse movimento ganhou notoriedade em nossos dias.

O que é “cair do Espírito”?

Embora não seja alguma novidade, o “cair no Espírito”, como vem sendo caracterizado, começou a ganhar notoriedade a partir de 1994. Neste ano, a Igreja Comunhão da Videira do Aeroporto de Toronto, no Canadá, passou a ser visitada por milhares de crentes todos à procura de uma bênção especial. Ao contrário das demais igrejas pentecostais, que buscam preservar a ortodoxia doutrinária, a Igreja do Aeroporto, como hoje é conhecida, granjeou surpreendente notoriedade em virtude das manifestações que ocorriam em seus cultos.

Dizendo-se cheios do Espírito, os frequentadores dessa igreja começaram a manifestar-se de maneira estranha e até exótica. Em dado momento, todos punham-se a rir de maneira incontrolável; alguns chegavam a rolar no chão. Justificando essa bizarria, alegavam tratar-se de santa gargalhada. Ou gargalhada santa? Outros iam mais longe: não se limitavam ao estrepitoso dos risos; saíam urrando como se fossem leões; balindo, como carneiros, ou gritando, como guerreiros, e ainda outros “caíam no Espírito”.

À primeira vista, tais manifestações impressionam, apesar de não contarem com o necessário respaldo bíblico. Entretanto, não devemos nos deixar arrastar por aparências, nem pelo exotismo desses “fenômenos”. Temos de nos posicionar segundo a Bíblia que, não obstante os modismos e ondas, continua a ser a nossa única regra de fé e conduta.

O cair no Espírito na Bíblia

Nas Sagradas Escrituras, o cair no Espírito não chega a ser um fenômeno: é mais uma reação reverente diante do sobrenatural. Registra-se apenas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, 11 casos de pessoas que caíram prostradas, com o rosto em terra, em sinal de adoração a Deus, e nesses casos não se constituem num histórico: são episódios isolados. Não têm foro de doutrina, nem argumentos para alicerçar um costume, nem para reivindicar uma liturgia; não podem sacramentar alguma prática. Afinal, reação é reação; apesar de semelhantes, diferem entre si. Como hão de fundamentar dogmas de fé?

Verifiquemos, pois, em que circunstâncias deram-se diversos casos de cair por terra nos relatos bíblicos.

A força de uma visão nitidamente celestial

As visões, na Bíblia, tinham uma força impressionante: agitavam, enfraqueciam e até deitavam por terra homens santos de Deus. Que o diga Daniel. Já encerrando o seu livro, o profeta registra esta formidável experiência: “Fiquei, pois, eu só e contemplei esta grande visão, e não restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem sentidos, rosto em terra.” (Dn.10:8-9).

Em sua primeira visão, Ezequiel também se assusta com o que vê. Ele se apavora: “… Esta era a aparência da glória do SENHOR; vendo isto, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de quem falava” (Ez.1:28). Sem liturgia, ou intervenção humana, o profeta prostra-se todo, e quem não haveria de se prostrar? Mesmo o mais forte dos homens, não se aguentaria diante de tamanho poder e glória. Recurvar-se-ia; lançar-se-ia com o rosto em terra.

Mais tarde, encontraremos Ezequiel noutro caso de prostração: “Levantei-me e saí para o vale, e eis que a glória do SENHOR estava ali, como a glória que eu vira junto ao rio Quebar; e caí com o rosto em terra.” (Ez.3:23). Quem não cairia ante as singularidades da glória de Deus? Quem a resistiria?

Já no final de seus arcanos [mistérios], Ezequiel vê-se constrangido a comportar-se de igual maneia: “O aspecto da visão que tive era como o da visão que eu tivera, quando vi destruir a cidade; e eram as visões como a que tive junto ao rio Quebar; e me prostrei, rosto em terra” (Ez.43:3).

Nesses casos, as visões divinas foram tão fortes que levaram tanto Ezequiel como Daniel a caírem por terra. Noutras ocasiões, porém, a ocorrência de visões, igualmente poderosas, não provocou alguma prostração. Haja vista o caso de Isaías. Embora se mostrasse aterrorizado e compungido com a visão do trono divino, não se menciona ter o profeta caído por terra. Isso significa que as experiências, embora semelhantes, possuem suas particularidades e idiossincrasias, isto é, cada experiência, ou encontro com Deus, é única. Seria tolice pretender repeti-las para que a sua repetição adquirisse foros de doutrina.

O impacto de um encontro com Deus

Além das visões, certos encontros com Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, levaram à prostração. Mencione-se, por exemplo, o que aconteceu com Saulo no caminho de Damasco. O encontro com Jesus foi tão formidável, que forçou o implacável perseguidor a cair por terra, e a reconhecer a autoridade e a soberania do Filho de Deus: “e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At.9:4).

Como nos casos anteriores, nada havia sido programado. Saulo foi levado a recurvar-se, em virtude da sublimidade do Senhor Jesus. Noutras ocasiões, porém, os encontros com Deus deram-se de maneira suave. A entrevista de Natanael com Jesus é um exemplo bastante típico dessa suavidade tão santa.

Que dizer também do encontro de Gideão com o anjo do Senhor ou do encontro de Jeremias com Yahveh? Este encontro veio na medida certa; veio de acordo com o caráter suave e melancólico do profeta. Tivesse, porém, Jeremias o temperamento colérico de Paulo, certamente o Senhor teria agido com impacto, para que o vaso fosse quebrado e moldado conforme a sua vontade. Como se vê, as experiências variam de acordo às circunstâncias e a personalidade das pessoas envolvidas no plano de Deus.

Diante da autoridade do nome de Cristo

A autoridade do nome de Cristo é mais que suficiente para fazer que todos os joelhos se dobrem diante dele; aliás, chegará o momento em que todos os seres, quer nos céus, quer na terra, quer sob a terra, hão de se curvar diante da infinita grandeza do nome do Senhor Jesus: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,” (Fp.2:9-10).

Na noite de sua paixão, o Senhor demonstrou quão grande era a sua autoridade: “Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra.” (Jo.18:6). Ao contrário dos casos anteriores, nessa passagem, quem cai por terra são os ímpios. Recurvam-se estes não em sinal de reverência a Deus, mas em razão da autoridade e soberania irresistíveis de Cristo.

Caso semelhante ocorreu com Ananias e Safira. Ambos caíram por terra em decorrência de sua iniquidade: “Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes.” (At.5:3-5).

Casos como esses não são raros. Em nossos dias, muitos são os ímpios que, por se levantarem contra os escolhidos do Senhor, caem por terra e, às vezes, fulminados.

Noutras ocasiões, porém, o Senhor revelou-se de maneira tão suave, que se fez homem diante dos homens. Que encontro mais doce do que aquele que se deu junto ao poço de Jacó? O Senhor revela-se de maneira surpreendentemente afável à mulher samaritana. E a experiência de Nicodemos? E a de Zaqueu?

Nas efusões do Espírito Santo de Atos dos Apóstolos houve casos de prostração?

Na ânsia de justificar o cair por terra que, como já dissemos tem de ser visto como episódio e não como histórico, muitos teólogos chegam a colocar tal reação como se fora uma das evidências da plenitude do Espírito Santo. Que pode haver prostração durante a efusão do Espírito Santo, não negamos. Pode haver, mas não tem de haver necessariamente, nem precisa haver para que se configure o derramamento do Espírito Santo. A prostração não pode ser vista como evidência, mas como uma reação ocasional e esporádica.

Nos diversos casos de efusão do Espírito Santo, nos Atos dos Apóstolos, não se observou algum caso de prostração. No dia de Pentecoste, segundo no-lo notifica o minucioso evangelista Lucas, estavam todos assentados no cenáculo (At.2.2). Na casa de Cornélio, onde o Espírito foi derramado pela primeira vez sobre os gentios também não se observou o cair por terra (At.10.44-47). Entre discípulos de Éfeso também não se registrou alguma prostração (At.19.6).

Em todos esses casos, porém, a evidência inicial e física da efusão do Espírito Santo fez-se presente. Conclui-se, pois, que não se deve confundir evidência com reação. A evidência é a mesma em todos os que recebem a plenitude do Espírito Santo. A reação, todavia, varia de pessoa para pessoa.

Mesmo quando o lugar santo tremeu, não se observou caso algum de prostração (At.4.31). Poderia ter havido? Sim, mas não necessariamente.

Conclusões

Do que até agora vimos acercar do “cair no Espírito”, podemos tirar as seguintes conclusões, tendo sempre como base as Sagradas Escrituras:

1. Não se deve realçar a experiência, nem guindá-la a uma posição superior à Palavra de Deus. A experiência é importante, mas varia de pessoa para pessoa; cada experiência é uma experiência; tem suas particularidades. A experiência tem que estar submissa à doutrina, e não há de modificar, por mais extraordinária que seja, nenhum artigo de fé.

2. O cair por terra não deve ser visto como evidência da plenitude do Espírito Santo, nem como sinal de uma vida consagrada. A evidência da efusão do Espírito Santo são as línguas estranhas; e a vida consagrada tem como característica o fruto do Espírito. O cair por terra pode se admitido, no máximo, como reação esporádica de alguma visitação dos céus. Se provocado, ou repetido, deixa de ser reação para se tornar liturgia.

3. Caso ocorra alguma prostração, devem-se fazer as seguintes perguntas: 1) Qual a sua procedência? 2) Teve como objetivo promover o homem ou glorificar a Deus? 3) Foi usada para catalisar a atenção de pessoas presentes? 4) Foi provocado por sopros, toques ou por algum objeto lançado no auditório? 5) Houve sugestão coletiva? 6) Prejudicou a boa ordem e a decência da igreja? 7) Conta com o respaldo bíblico suficiente? 8) Tornou-se o centro do culto?

4. Devemos estar sempre atentos, pois o adversário também opera sinais espetaculares com o objetivo de enganar os escolhidos: “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.” (Mt.24:24).

5. Nos vários exemplos de prostração que fomos buscar na Bíblia, observamos o seguinte: os personagens que se prostraram, ou foram prostrados em virtude de alguma experiência sobrenatural, caíram para frente, e não para trás, como está ocorrendo hoje em algumas igrejas. Não era algo programado, nem ministro algum os induzira a cair, ou seja, ninguém precisou soprar neles ou tocar para que caíssem. Tais modismos têm levado a irreverência e a bizarria no meio do povo de Deus. Há alguns que se tornaram tão ousados que jogam até seus paletós a fim de provocar prostrações coletivas. Isto é um absurdo! É antibíblico!

6. Os casos de prostração na Bíblia deram-se em virtude da reverência e temor que os já citados personagens sentiram ao presenciar a glória divina. No Novo Testamento, o termo usado para prostração é “epesan prosekunesan” que, no original, significa: cair por terra em sinal de devoção. Em Apocalipse 5.14 essa expressão grega aparece para mostrar os anciãos prostrados aos pés do Cristo glorificado.

7. Voltemos à questão. Pode acontecer prostração numa reunião evangélica? Pode, mas não tem de acontecer necessariamente; pode, mas não precisa acontecer, nem ser provocada. Caso aconteça, deve ser encarada como reação e não como fato doutrinário [ou litúrgico]. John e Charles Wesley, por exemplo, experimentaram um poderoso avivamento, mas jamais elevaram suas experiências à categoria de doutrina. As heresias nascem quando se supervaloriza a experiência em detrimento da doutrina. Não devemos nos esquecer de que algumas da mais notáveis heresias deste século, como a Igreja Só Jesus, nasceu em pleno período de avivamento.

8. De certa forma, todo avivamento provoca extremismos. Cabe-nos, porém, buscar o equilíbrio tão necessário à igreja de Cristo. Era o que ocorria em Corinto. Não resta dúvida de que os irmãos daquela comunidade cristã haviam recebido forte visitação dos céus. Todavia, tiveram que ser doutrinados e disciplinados. A esses irmãos escreveu Paulo: “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas; porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos,” (1 Co.14:32-33).

Finalmente, jamais devemos abandonar a Bíblia. Ênfases, como cair no Espírito, hão de surgir sempre. Não devemos nos impressionar com elas; tratemo-las com o devido equilíbrio. Pois o equilíbrio bíblico e teológico há de manter a igreja de Cristo em permanente avivamento, e o verdadeiro avivamento não extingue o Espírito, mas sabe como evitar os excessos.

Por Claudionor Correia de Andrade

Créditos: ICP - Instituto Cristão de Pesquisas

Observação: Comentários e respostas, aguardem a aprovação do moderador do blog.
Dúvidas e esclarecimentos, escreva para: anti-heresias@hotmail.com

Nenhum comentário: