sábado, 12 de novembro de 2022

O CREDO APOSTÓLICO

"Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Cristã; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém". (Baseado no credo luterano).

Essa afirmação precisa ser citada por nossas crianças, nós adultos precisamos saber mencioná-la por inteiro. Devido a sua importância, antiguidade do texto e respaldo bíblico.

Segundo o livro O CREDO DOS APÓSTOLOS, o autor escreve: “A história da formação do Credo está conectada com o nascimento da Igreja Cristã. A forma integral do que conhecemos hoje como Credo dos Apóstolos teve sua origem em tordo do século VIII na Gália, atual França – mencionado num sermão de Cesário de Arles. Entretanto, partes dele já eram bem mais antigas e se acham nos escritos de alguns Pais da Igreja, e eram chamados de ‘regra de fé’ ou ‘tradição’. No final do século III, Hipólito de Roma, que foi presbítero na capital do Império, em sua obra Tradição Apostólica, ofereceu uma profissão de fé estruturada em forma de perguntas que lembra muito o Credo”. (Franklin Ferreira, 2015 páginas 26,27).

No livro IGREJA GILEADE, Minha Visão Teológica diz que: “O Credo Apostólico (ou Credo dos Apóstolos). Não foi feito pelos apóstolos, mas em homenagem a eles. Era uma fórmula utilizada nos batismos da igreja cristã. O indivíduo que quisesse se batizar tinha que afirmar aquelas verdades do Credo. A autoria e datação do Credo Apostólico verificam-se em duas fontes: Marcelo, bispo de Ancira (285-374 d.C.) e Rufino, sacerdote de Aquileia (345-411 d.C.). Bettenson (1983. P.54) faz menção a ambos, como coautores do referido credo: O Antigo Credo Romano […] Credo de Marcelo. Bispo de Ancira, enviado a Júlio, Bispo de Roma, c.340. Marcelo, desterrado de sua diocese por pressões arianas, passou quase dois anos em Roma e, antes de se retirar, deixou este documento de sua fé. Rufino, sacerdote de Aquileia, […] c.400, […] compara o credo composto pelos apóstolos em Jerusalém e conservado pela Igreja Romana como profissão de fé em seu ritual de batismo. Este credo difere do de Marcelo apenas em detalhes. […] O Credo Apostólico completo, tal como conhecemos, encontra-se pela primeira vez em Dicta Abbatis Pirminii de singulus libris canonicis scarapsus […] c 750”. (Daniel Durand, 2017 páginas 78, 79).

Vimos até aqui, a sua antiguidade, agora vamos a sua importância. Por que devemos ensiná-los aos pequeninos e adultos? A princípio porque o credo apostólico é um texto sucinto e fácil de memorizar. Também porque seu conteúdo firma verdades universais da igreja cristã. E por fim por causa de seu respaldo bíblico.

Diferente de outros credos, eles são bem complexos, mais profundos e extensos. O credo apostólico é uma síntese que não desaparece na transmissão oral, quanto mais na escrita.

As verdades inseridas no texto, tais como o relato histórico da obra redentora de nosso Senhor Jesus é fundamental para a memória de todos: “padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai”. Jesus nos disse que ao participarmos daquela ceia instituída por ele nós fizéssemos memória da sua morte. Logo, o credo apostólico corrobora com isso. Essas afirmações e as demais ali contidas são afirmações de fé para o cristão que faz para si mesmo como em Salmos 103. Donde repete em seu conteúdo a frase “minha alma” como se o autor tivesse falando com sigo mesmo. O credo apostólico segue essa mesma linha de pensamento

E por fim, o credo apostólico tem o seu respaldo bíblico porque todas as suas afirmações possui o testemunho das Escrituras. Pra ser melhor, a força das Escrituras trouxe à meditação dos seus leitores as verdades preciosas do seu texto em forma de frases que expressam a fé do cristão que chamamos de credo apostólico. Ou seja, aquilo que os apóstolos afirmavam em suas pregações, ensinos, orações e conversas com seus filhos espirituais multiplicados por todo o mundo; de Jerusalém, Judéia, Samaria e confins da Terra (cf Atos dos Apóstolos 1.8) ficou cravado nas frases do Credo Apostólico.

EXPOSIÇÃO BÍBLICA DO CREDO APOSTÓLICO

  • Creio…

Esse credo tem algo pessoal nele. Pois todos os credos cristãos posteriores iniciam com “cremos”, numa voz coletiva. Enquanto que o credo apostólico sua afirmação remete a uma afirmação pessoal, numa voz individual: creio. Isso nos faz refletir que a salvação é individual e que precisamos crer pessoalmente primeiro em Jesus e nas verdades bíblicas; de uma experiência pessoal com Deus.

Vamos primeiramente para a expressão: “Creio”. Que está no início do credo. Essa afirmação aparece na narrativa bíblica do pai do menino possesso por demônios, e que não tinha fé suficiente para ver seu filho curado. Então Jesus o confronta: “Se podes! Tudo é possível ao que crê!”. E logo em seguida o pai do menino responde: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!”. (cf. Marcos 9.23, 24 ARA). Em outro momento, Jesus cura um cego de nascença, e depois dele ser cura é muito afligido pelos religiosos a ponto que depois de ser expulso da presença deles, procurou em particular perguntando: “Crês tu no Filho do Homem?”. Logo depois o cego curado respondeu: “Creio, Senhor; e o adorou”. (cf. João 9.35, 38 ARA).

Assim, é muito importante que você acredite primeiro no que dirá logo em seguida. Não basta afirmar o credo apostólico, é necessário antes disso, acreditar. Pois a fé, o ato de crer, é essencial: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.” (Hebreus 11.6 ARA). Você acredita no que consta no credo apostólico?

  • “... em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra...”.

Deus Pai é uma declaração distinta das pessoas da Trindade, uma vez que tem o Pai, tem o Filho distintamente. Uma colocação que anula a heresia do unicismo, que é uma falsa concepção da doutrina da Trindade. Jesus orava ao Pai, ele não poderia ser Deus de si mesmo (cf. Mateus 27.46; Lucas 23.46; João 17). Evidentemente, temos assim duas pessoas distintas: Deus o Pai, em seguida temos a revelação do Filho. E mais adiante, no mesmo credo, a do Espírito Santo. Sendo, portanto, a expressão “Deus Pai”, no sentido soteriológico, uma ordem hierárquica: Pai, Filho e Espírito Santo. E no sentido ontológico, iguais e harmonicamente unidos em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Conforme Jesus afirmou: “Eu e o Pai somos um.” (João 10.30 ARA). E também o seu apóstolo João: “Pois os que dão testemunho são três: o Espírito, a água e o sangue; e os três concordam entre si”. (1João 5.7 AXXI).

Na continuidade, o “todo-poderoso” é outra expressão forte e ampla. Deus é todo suficiente. Até mesmo enquanto ser, pessoa. Ele não precisa de suas criaturas para amar e se relacionar, pois ele ama si mesmo, pois é composto de três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo (ver Isaías 48.11). A Bíblia diz: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.” (1 João 4.8). Se Deus fosse uma única pessoa não poderia ser todo-poderoso, pois sempre dependeria de outro ser ou criatura para amar. Assim, ele é todo-poderoso não somente porque tem todo poder, mas porque é todo suficiente. A onipotência (hebraico: shaday) de Deus está na Bíblia em várias passagens (exemplos: Salmo 91.1; Gn.17.1; Ap.1.8).

Concluindo o primeiro trecho, temos a afirmação “criador do céu e da terra”. A Bíblia diz: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” (Salmos 24.1 ARA). A Bíblia não fala da origem ou existência de Deus, ela começa falando dele existindo por toda eternidade. Ele existe antes de tudo existir, sendo, portanto, inimaginável a existência de Deus. Por ser ele o criador de tudo que existe. A Bíblia diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Gênesis 1.1 ARA). Essa é a mais fascinante expressão inicial da Bíblia. Aonde temos:

  1. No princípio: tudo, exceto Deus, teve um início, um começo;

  2. Criou: houve uma criação, o universo foi criado. Evidentemente, teve um criador;

  3. Deus: ele estava no começo e ele é o criador, o autor da criação.

O céu e a terra são os limites do ser humano, donde temos toda a herança deixada pelo criador para que possamos viver; explorar e expandir a nossa humanidade, em conjunto com toda a maravilha da vida que ele, como o Criador, nos deixou o legado. (Mais textos: Isaías 44.24; 45.12; Salmos 121.2).

  • “… E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor…”.

Não tem como crer em Deus Pai e não crer em seu Filho Jesus, pois o conhecimento maior e melhor de Deus vem por meio de Jesus. Essa expressão lembra muito aquela oração que ele fez ao Pai: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3 ARA). Observe que a vida eterna; obter a eternidade da bem-aventurança, e todas as bênçãos do porvir é condicionado ao fato de conhecer a Deus o Pai e a Jesus Cristo.

O apóstolo João escreveu: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3:36 ARA).

A afirmação de crer em Jesus é fundamental, e não se resume a um crer intelectual, mas existencial. Uma entrega de vida. Pois o conhecimento produz a confiança, e crer, segundo a Bíblia, é confiar! De modo que é fundamental tanto o conhecer a Jesus quanto o crer, pois não há uma confiança solidificada em quem quer que seja sem conhecimento dela.

A expressão “nosso Senhor” vem como submissão, reconhecimento de quem Jesus é; englobando todos nesse sentimento. Essa é uma confissão de salvação, conforme escreveu o apóstolo Paulo: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10:9 ARA o grifo é meu). Todos os cristãos primitivos sabiam e divulgavam da necessidade dos seus ouvintes a confessarem Jesus como Senhor de suas vidas. Por isso a expressão no credo apostólico reconhecendo isso por todos os que o pronunciarem.

  • “… o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria…”.

O nascimento de Jesus foi de modo sobrenatural. A Bíblia nos informa que ele foi o único gerado assim: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (João 1:14 ARA o grifo é meu). Essa expressão vem da raiz grega “monogenes” uma palavra que quer dizer: “único do seu tipo, exclusivo” (léxico de James Strong). Sendo, portanto, uma ratificação da frase do credo apostólico de forma profunda. Isto é, Jesus foi gerado diferente de todos os seres humanos, ele foi gerado por obra divina. Cujo autor é revelado na Bíblia como Espírito Santo, conforme declarou o anjo Gabriel a Maria: “Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” (Lucas 1:34-35 ARA). Portanto, a afirmação do credo apostólico é certeira e expressa em síntese o que a igreja e os apóstolos acreditavam sobre seu nascimento.

A expressão “nasceu da virgem Maria” é evidente tanto pelo que falamos agora pouco quanto pelo que a profecia sobre o Messias previa esse acontecimento: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.” (Isaías 7:14 ARA o grifo é meu). Jesus, como Salvador, Redentor da humanidade não poderia vir da mesma condição pecaminosa que a do ser humano. Ele foi a oferta perfeita de Deus, prevista e tipificada nos sacrifícios pelos pecados da Antiga Aliança. Onde os quais deveriam ser sem mancha, sem defeito. Isso posto fica óbvio que a natureza pecaminosa do ser humano se transmite por meio da geração dos pais para os filhos. Por isso declarou o salmista: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmos 51:5 ARA). Conclui-se que a natureza pecaminosa, veio por transmissão da concepção. (Veja também Rm.5.12; Hb.4.15; 2Co.5.21; Rm.8.7-9; Hb.7.26). Portanto, essa expressão “virgem Maria” é uma constatação de que ela não teve relação com José para que Jesus viesse a ser gerado. Por isso o apóstolo Mateus relatou que José não teve um relacionamento íntimo com Maria após ser informado de que sua gravidez não era por homem algum (ver Mt.1.20-24); assim ele si absteve da relação sexual com ela até parto: “Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.” (Mateus 1:25 ARA).

  • “… padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos…”.

Esse ponto marca o trajeto doloroso e sofrido de Jesus no ato amoroso e abnegado de entrega da sua vida por nossas vidas. Desde o seu sentenciador até o término de sua sentença, com sua morte, sepultamento e ida ao Sheol. O foco desse trecho do credo é ensinar a todos, da criança ao adulto, a caminhada da redenção que Jesus nos promoveu. A primeira parte cita Pôncio Pilatos, num registro histórico e irrefutável do acontecido. Jesus padeceu no governo dessa autoridade. Ele recebeu açoites, foi humilhado e por fim sentenciado a morte de cruz (ler Jo.19.1-17). Na sua morte registrou-se: “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito.” (João 19:30 ARA). É inadmissível o argumento dos teólogos muçulmanos em negar a morte de Jesus. O Novo Testamento relata que ele expirou (ver Mt.15.37), que guardas verificaram se de fato ele estava morto e por isso não lhe quebraram as pernas (ver Jo.19.32-34; Mc.15.44,45). O próprio credo aqui em análise menciona sua morte e sepultamento. Os quatro evangelhos relataram o seu sepultamento (ver Mt.27.59-61; Mc.15.42-47; Lc.23.53; Jo.19.40-42).

A expressão “desceu à mansão dos mortos” é a parte mais complexa do nosso estudo. Essa mansão dos mortos é uma alusão ao Sheol (termo hebraico), palavra que expressa bem a frase do credo. O profeta Oseias falou sobre a angústia da morte e pra onde vão os que morrem: “Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? Meus olhos não veem em mim arrependimento algum.” (Oseias 13:14 ARA o grifo é meu). Inclusive essa profecia de Oseias é citada pelo apóstolo Paulo (em 1Co.15.55). A palavra hebraica de onde traduz “inferno” aqui na versão ARA utilizada é “sheol”. Na versão AXXI e versão de Jerusalém não traduzem, mas colocam a própria palavra “sheol”. A versão NVI e BKJ traduz “sepultura”. Na versão NTLH coloca “mundo dos mortos”. Na versão Hebraica coloca “morada dos mortos”. No léxico de James Strong essa palavra hebraica SHEOL significa: “Mundo inferior (dos mortos), sepultura, inferno, cova”. Uma palavra pouco usada para designar uma sepultura comum, ou seja, a parte literal de seu significado. Geralmente SHEOL é um termo hebraico que retrata a sepultura espiritual, um lugar para onde vão os mortos. Que se assemelha a HADES no NT grego. A palavra mais usual no AT para o significado literal de sepultura é “qeber” (no feminino) ou “qibrah” (no masculino), que significam: “túmulo, sepultura, tumba” (James Strong). E também se usa “qeburah” que significa: “túmulo, sepultamento, lugar de sepultamento”. (James Strong). Conclui-se que, assim como a sepultura material (qibrah) abriga os corpos tanto de justos como de injustos, a sepultura espiritual (sheol) recebia tanto os justos quantos injustos do Antigo Testamento também. Lembremos que a frase do credo apostólico “foi crucificado, morto e sepultado” trata-se da morte e sepultamento de Jesus, da sepultura de seu corpo. Enquanto que a expressão “desceu a mansão dos mortos” trata-se de sua descida ao Sheol (AT) ou Hades (NT), de sua sepultura espiritual, um lugar aonde vão, de forma espiritual, os que morrem.

Dito isso, a frase “desceu à mansão dos mortos” é uma clara afirmação de que Jesus foi ao mundo dos mortos, a morada dos mortos, conforme relata algumas passagens bíblicas:

Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão” (1 Pedro 3:19).

Essa passagem tem pontos do credo apostólico: “Cristo morreu... morto, sim na carne” reforça a expressão “foi crucificado, morto e sepultado”. E a continuação da frase: “mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão” reforça a expressão “desceu a mansão dos mortos”. O termo “vivificado no espírito” quer dizer que ele não morreu espiritualmente, pois a morte espiritual, a morte eterna, a condenação eterna, não teve poder sobre ele (ver Jo.5.24 e 11.25 ARA). E nessa condição ele compareceu a “mansão dos mortos” e foi até lá “publicar, proclamar abertamente: algo que foi feito” (do grego: kerusso. James Strong), como está no verso: “foi e pregou [kerusso] aos espíritos em prisão”.

Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas.” (Efésios 4:8-10).

Nesta passagem também inclui o credo apostólico, quando diz: “havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu” reforça a expressão “desceu a mansão dos mortos”. Aonde Jesus, segundo essa passagem bíblica, retirou do Sheol (do grego Hades) os justos do Antigo Testamento que estavam cativos ali, mas mantidos em graça. Esses justos estavam no inferno enquanto local e não enquanto estado: “agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos” (ver Lc.16.25 ARA). Todavia, esses justos do AT foram levados aos céus: “Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro”.

Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.” (1 Timóteo 3:16).

Aqui temos mais outra referência ao credo apostólico de forma abrangente. Pois trata de todas as etapas do plano redentor. Que segue: “manifestado na carne” relaciona-se ao credo quando diz “nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”. Também: “justificado em espírito” remete ao credo quando diz “desceu a mansão dos mortos”. Aonde nessa condição, ele não foi afetado pelo poder da morte eterna, da condenação eterna. Isto é, o inferno não pode segurá-lo, mas si sujeitou ao seu poder (ver Ap.1.18) pelo qual o diabo e suas obras foram desfeitas (ver Hb.2.14; 1Jo.3.8). O restante do verso em apreço veremos mais adiante.

Pois não deixarás a minha alma no inferno [sheol], nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Salmos 16:10 ARC). Uma profecia messiânica cumprida em Jesus mencionada também no NT: “Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção.” (Atos 2:27 ARC).

E por fim, essa passagem que tem repercussão no NT, reforça o que falamos há pouco. De que o inferno (Sheol ou Hades) não teve poder de sentença sobre Jesus. Sabemos pela Bíblia que: “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb.9.27 ARA). Entretanto, o consequente juízo sobre os mortos não prevaleceu sobre Jesus. Vindo ele a ser “contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (1Tm.3.16 ARA restante) a quem todos os anjos de Deus o adoram (ver Hb.1.6 ARA).

Enfim, a expressão “desceu à mansão dos mortos” emite o veredito da vitória de Jesus sobre o pecado e a morte trazendo a seguinte conclusão do apóstolo Paulo: “o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.” (Romanos 4:25 ARA).

  • ... ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos”.

Esse trecho do credo apostólico está muito harmônico com várias passagens bíblicas. Vejamos a seguir cada sentença.

... ressuscitou ao terceiro dia”.

Isso é uma exposição daquilo que tá na Escritura. O apóstolo Paulo nos diz: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (1 Coríntios 15:3-4 ARA o grifo é meu). Essa passagem bíblica revela que o apóstolo foi doutrinado pelo mesmo assunto e que depois de ter conhecido repassou isso para os irmãos em Corinto. Por isso que eu digo aqui pra aprendermos o credo apostólico e repassarmos para crianças e adultos. Daí o apóstolo narra que Jesus morreu pelos nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Uma preciosa narrativa da salvação. Observe que ele frisa “segundo as Escrituras” duas vezes. Isso porque é a Bíblia que nos passa essa verdade e depois transformamos em nossa regra de fé, a exemplo disso o credo apostólico. Agora vejamos o grifo ressuscitou ao terceiro dia, temos várias passagens bíblicas que afirmam isso (veja ainda At.10.40; Mt.12.40; Jo.2.19-21). Entretanto, parece ser contraditório para nós ocidentais. Pois ele faleceu na sexta-feira. Todavia, o que estava em voga era o método judaico de calcular o tempo. Para os escritores judeus, qualquer parte do período era considerada um período total de 24 horas. Qualquer parte de um dia era registrado um período completo. Levando em conta que um novo dia judaico se inicia ao por do sol. Portanto, Jesus falecendo às 15h de sexta-feira já se conta um dia de sua morte. Somando com o sábado, temos mais um dia; e finalmente domingo. Temos assim três dias. Veja o gráfico abaixo que vai esclarecer mais:

Dia

Horários judaicos

Acontecimento

1º dia: sexta-feira

18h de quinta até 18h de sexta-feira

Jesus morreu 15h

2º dia: sábado

18h de sexta até 18h de sábado

Jesus no sepulcro

3º dia: domingo

18h de sábado até 18h de domingo

Jesus ressuscita na alvorada.

De fato Jesus só ficou morto 38,5 horas, aonde o normal seria 72 horas (3 dias de 24 horas). Entretanto, como já vimos, qualquer parte de um dia era registrado um dia completo. Sendo 15 horas de sexta-feira o primeiro dia de sua morte. O segundo dia foi o sábado e o terceiro dia o domingo. Aonde na alvorada de domingo ele ressurgiu. Sendo assim:

Pôr do sol de quinta

Pôr do sol de sexta

Pôr do sol de sábado

É Sexta-feira

É Sábado

É Domingo

Jesus morreu 15h

Jesus no sepulcro

Jesus ressuscita 5:30h

3 horas morto

24 horas morto

11,5 horas

1º dia

2º dia

3º dia

Vamos prosseguir no credo apostólico, que segue:

... subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai”.

A narrativa bíblica da ascensão de Jesus está em suas páginas (ver Mc.16.19; Lc.24.41; At.1.9). Ele tinha que voltar para o Pai. Pois a humanidade precisava ser representada no céu. Pois ele tá lá fazendo o papel de sumo sacerdote, que no AT Cristo era prefigurado pelos homens de Israel da tribo de Levi. A Bíblia diz: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 1:3 ARA). Ele intercede por nós junto ao Pai: “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este...” (Hebreus 7:25-26 ARA). Subiu ao céu também porque o Espírito Santo deveria ser enviado: "Todavia, digo-vos a verdade; é para o vosso benefício que eu vou. Se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, eu o enviarei." (João 16:7 AXXI).

A expressão “está sentado á direta de Deus Pai” é outra refutação forte contra os mal-entendidos sobre a doutrina da Trindade. Exemplo disso o unicismo, que eu já havia mencionado. Aonde negam a existência das pessoas da divindade. Em lugar alegam a existência de personificações. O que é contraditório ao credo apostólico. Pois temos aqui a afirmação de que Jesus está ao lado do Pai. O que seria uma expressão errada se Deus fosse uma única pessoa ou que Jesus e o Pai fossem uma mesma pessoa. Porém temos o depoimento na Bíblia também de que Jesus está ao lado de Deus, ao lado do Pai. Isso é fato aonde o credo apostólico reitera. Confira na Bíblia:

Então disse: Eis que vejo os céus abertos e o filho do Homem, em pé à direita de Deus.” (Atos 7:56 NAA).

Ora, o essencial das coisas que estamos dizendo é que temos tal sumo sacerdote, que se assentou à direita do trono da Majestade nos céus”. (Hebreus 8:1 NAA).

Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus” (Hebreus 10:12 NAA).

olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direta do trono de Deus.” (Hebreus 12:2 NAA).

que, depois de ir para o céu, está à direita de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, potestades e poderes”. (1 Pedro 3:22 NAA).

Jesus está ao lado do Pai:

“Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. (1João 2:1 NVI).

Agora faça a conexão com este outro verso: “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.” (Romanos 8:34 ARA).

As afirmações “Deus Pai” no credo apostólico, que ocorre duas vezes no seu texto, é um resumo do uso do título “theos” (traduz “Deus”) muito usual no NT grego, ora atribuído ao Pai: “Verbo estava com Deus”; ora atribuído ao Filho: “e o Verbo era Deus” (Jo.1.1 ARA); e ora atribuído ao Espírito Santo: “... para que mentisses ao Espírito Santo [...] Não mentiste aos homens, mas a Deus”. (At.5.3,4 ARA).

... donde há de vir para julgar os vivos e os mortos”. É uma expressão que remete ao futuro. Chamamos de escatologia, o estudo das últimas coisas. Aquilo que acontecerá no futuro. Evidentemente trata-se da volta de Jesus. Pois bem, dentre os vários acontecimentos escatológicos, está o fato de que do trono de Deus sairá o julgamento de toda humanidade, sejam vivos e mortos. Os que estiverem vivos serão julgados no dia do Senhor: que terá grande tribulação em toda terra (Mt.24.21; Ap.2.22; 1Ts.5.2,3; Am.5.18; Jl.1.15; Sf.1.14); no advento da volta gloriosa de Jesus dos céus para julgar as nações da terra (ver Mt.25.31-46; Ap.20.4,5; At.17.31) e os que morreram serão ressuscitados no dia do juízo final (Ap.20.11-15; Dn.12.2; 2Pe.2.9; 2Pe.3.7). Conforme nos diz o apóstolo Paulo: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino” (2 Timóteo 4:1 ARA). Enfim, todos esses acontecimentos remetem a expressão do credo “donde há de vir para julgar os vivos e os mortos”.

  • Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Cristã; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém”.

Finalmente, no último trecho do credo, temos aqui uma expressão que pontua assuntos importantes do cristianismo, são eles:

  1. O Espírito Santo

  2. A Igreja

  3. A relevância da comunhão

  4. A remissão dos pecados

  5. A ressurreição dos mortos

  6. A vida eterna

Explanemos esses pontos a seguir:

  1. Creio no Espírito Santo”. Observe que esse credo começa com “Creio em Deus Pai”, em seguida remete a crer “em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”, agora fecha a exposição da doutrina trinitariana, levando ao professante da fé cristã a crer “no Espírito Santo”, isso revela o mistério da divindade: Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Um único Deus, distinto em sua trindade. Isto é, em três pessoas na divindade. Acreditar no Espírito Santo é fundamental, porque a Bíblia no diz assim:

Deus, porém, revelou isso a nós por meio do Espírito. Porque o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece as coisas do ser humano, a não ser o próprio espírito humano, que nele está? Assim, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus”. (1Co.2.10-11 NAA).

Observe a passagem bíblica, creia no Espírito Santo por quem ele é. Isso é de fundamental importância. O Espírito de Deus não é Deus o Pai. O Espírito de Deus é outra pessoa de Deus. Veja que o Espírito “sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus”. Isto é, do divino, na perspectiva ontológica da divindade celestial. O Espírito sonda o ser divino. E também o Espírito “conhece as coisas de Deus”. Veja ele sonda e conhece. O interessante é a comparação feita pelo apóstolo Paulo com o ser humano, na perspectiva ontológica da humanidade. Assim como o ser humano é distinto em espírito e corpo, o ser de Deus é distinto em Pai, Filho e Espírito. Embora se trate de um único ser, Deus subsiste em três pessoas. Lembrando que os comparativos do ser de Deus sejam teológicos, filosóficos; ou bíblicos, não são plenos para mensurá-lo. Entretanto, temos aqui nessa passagem bíblica uma clara evidência das afirmações do credo apostólico.

Crer no Espírito de Deus envolve também sua missão. A nossa confiança nele, como o outro consolador: “E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre”. (Jo.14.16 NAA, o grinfo é meu). Vemos aqui que o Consolador pioneiro é Jesus, depois temos o sucessor de Jesus, que é o Espírito Santo. Observação aqui para a tradução “outro” que vem da raiz grega “allos” que significa “outro, diferente” (léxico grego de J. Strong). Isso posto temos que confiar no Espírito de Deus assim como confiamos em Jesus. De que o que Jesus afirmou dele se cumprirá. Vamos mais a frente no mesmo capítulo do trecho em análise: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu lhes disse”. (idem v.26). O Espírito de Deus tem sido o grande mestre da igreja, nos ensinando e orientando como temos que proceder (ver Jo.16.13, Rm.8.14), principalmente e fundamentalmente por meio da Bíblia, que ele agiu inspirando todos os seus escritores do AT e aqui Jesus promete que o Espírito Santo faria com que seus primeiros discípulos “se lembrem de tudo” e que “ensinará a vocês” frases que remetem a inspiração também do NT. Temos que confiar na Bíblia, pois é confiar no Espírito Santo, foi ele quem inspirou a produção de seu texto: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a educação na justiça”. (2Tm.3.16 NAA). Veja também: “... homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. (2Pe.1.21 NAA). E ainda: “... a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”. (Ef.6.17 NAA). Por isso, quem nega a Bíblia nega o Espírito Santo, e nega aquele que o enviou. Essa missão do Espírito de Deus de ser o doutrinador da igreja e de ser o substituto de Cristo tem que ser acreditada, depositada a nossa confiança.

  1. “… na Santa Igreja Cristã”. Crer na santa, na separada, na consagrada, Igreja Cristã é a princípio crer na sua distinção, de ser pertencente a Cristo e a nenhum outro. Aonde “Igreja Cristã” envolve “reunião, assembleia, grupo de cristãos” distinta do mundo. Isto é, a reunião é Cristã, ela não é mundana, não é um grupo pertencente ao mundo, mas a Cristo. Ele mesmo disse: “… edificarei a minha igreja”. (Mt.16.18 NAA). Sendo assim, uma derrota do pensamento de que ela pertença a uma denominação cristã. A igreja local é a expressão visível da Igreja Cristã como um todo, mas uma igreja local não pode se apoderar de ser A IGREJA. Isso cria uma segregação, um sectarismo doentio que precisa ser banido do cristianismo. Denominações como a Igreja Católica Apostólica Romana, As Testemunhas de Jeová, a Igreja Mórmon, Igrejas Adventistas, e tantas outras, não podem arvorar da presunção de ser A IGREJA. O credo apostólico original vem com a frase: “na Santa Igreja Católica”. Ora, esse termo não remete ao catolicismo romano, uma vez que o papado só teve início em 590 d.C com Gregório I. Embora Inocêncio I em 402 d.C e Leão I em 440 d.C já aspiravam o domínio sobre as demais igrejas cristãs. (fonte: http://www.cacp.org.br/a-origem-do-papado/). A palavra “Católica” se refere à igreja universal, global, a soma de todos os cristãos. A totalidade de todos os seguidores de Jesus. “O significado original do termo ‘católico’ é ‘universal’, no sentido oposto a local ou provinciano. Inácio foi o primeiro Pai da Igreja a usar este termo; ele escreveu: ‘Onde Cristo está ali se encontra a Igreja Católica”. (Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo. George Mather e Larry Nichols. Página 82). Observe que o credo apostólico omite o termo: “Romana”, pois não envolve uma denominação, está acima disso, o credo apostólico agrega todas as denominações cristãs, todas as igrejas locais.

Enfim, afirmar em crer na “Santa Igreja Cristã” é reconhecer que sozinho você não é igreja. Mas que precisa se somar a outros cristãos em reunião, comunhão e organização. Como lemos na Bíblia: “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos”. (1Co.12.14 NAA). Um membro não é o corpo, mas parte dele, pois o corpo não é formado de um só membro. Assim o cristão, sozinho, não é igreja, ele deve está associado com outros cristãos em cumplicidade. Vale ler ainda: “Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?” (idem v.19).

  1. “… na comunhão dos santos”. Percebemos que há uma sequência intuitiva no texto do credo. Pois acreditar no Espírito Santo leva a igreja de Deus, aonde o Espírito constituiu bispos para pastoreá-la (ver At.20.28); leva a “comunhão dos santos” aonde a Bíblia nos ensina: “Se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. (1Jo.1.7 NAA). A comunhão é um pilar da igreja local. Quando os cristãos vivem em comunhão é sinal de que estão andando na luz, distantes das trevas. E essa aproximação da luz, expõe os pecados, confronta, e a parte mais importante: trás o perdão desses pecados. Obviamente reconhecidos, confessados e tratados. Um cristão que se distancia de uma igreja local já rompeu com o Espírito de Deus e não quer andar na luz. Isto é, não quer ser tratado. Por isso a Bíblia nos ensina: “Cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor e na prática de boas obras. Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima”. (Hb.10.24,25 NAA). Isso tudo envolve comunhão: o cuidado de animar o irmão de fé no amor e nas boas obras; e a prática de congregar e admoestar os que deixaram de congregar.

Observem que o credo chama os cristãos de “santos”. Uma derrota daqueles que criaram a santidade como um privilégio de um grupo seleto de pessoas escolhidas pela Igreja Católica Romana e que intercedem pelos seus fiéis. A princípio, no sentido profundo da palavra “santo” sabemos que só Deus é santo (ver Ap.15.4). Depois, somos informados pela Bíblia que só Jesus intercede por nós (ver 1Tm.2.5; Hb.7.25; Jo.14.6). E por fim, os santos são todos os cristãos. Pois foram santificados por Jesus. São muitas passagens bíblicas que relatam isso. Vejamos algumas:

à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todos os lugares invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. (1Co.1.2 NAA).

Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus”. (1Co.6.11 NVI).

Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas”. (Hb.10.10 NVI).

  1. “… na remissão dos pecados”. Esta benção da graça divina é mencionada na Bíblia em várias passagens (ver Ef.1.7; Cl.1.14; Hb.10.18; Tt.2.14). A palavra “remissão” está no NT grego na raiz “aphesis” que significa: “livramento da escravidão ou prisão, remissão ou perdão, de pecados”. (J. Strong). Quando dizemos que cremos “na remissão dos pecados” isso envolve as afirmações bíblicas constadas aqui nas referências. Aonde prevalece no contexto bíblico o perdão dos pecados. Porque a libertação da escravidão, já ocorre na palavra que antecede nos versículos que é redenção. Em outros casos, aponta como libertação, no sentido da dívida. Como ocorre em Tito 2.14 com a raiz grega “lutroo”. Porém, numa perspectiva futura, Cristo nos libertará do pecado, no advento da sua vinda, aonde teremos a redenção do corpo (ver Rm.8.23) e deixaremos de pecar (ver Dn.9.24). Assim, quando professamos que cremos na remissão dos pecados, é em toda a sua amplitude de tempo: passado, presente e futuro. Por isso que as afirmações do credo apostólico terminam mencionando a ressurreição dos mortos e a vida eterna.

  2. ... na ressurreição dos mortos”. O que ocorrerá na ressurreição dos mortos em Cristo é uma consumação da redenção, pois nesse advento haverá o arrebatamento dos remidos junto com eles (ver 1Ts.4.16,17). Aonde será destruída a morte e consequentemente o pecado, o aguilhão da morte (ver 1Co.15.51-57). E assim não haverá mais pecado, nem morte, nem suas consequências (ver Ap.21.3-5). Todavia, a ressurreição dos mortos será amarga para os que não estão em Cristo (ver Rm.8.1), aos que não creram no Evangelho (ver Mc.16.15,16), para os que não obedeceram ao chamado do Evangelho (ver 2Ts.1.7-10). Por isso que o profeta Daniel disse: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.” (Daniel 12:2 ARA). Outro ponto que vale citar aqui é que o Espírito Santo tem a missão de operar todo o processo da ressurreição dos remidos, com todas as bênçãos aqui citadas, que é a consequente glorificação do corpo dos justos: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.” (Romanos 8:11 ARA). A palavra ressurreição está no NT grego na raiz “exanastasis” que significa “ato de levantar-se, voltar a viver, ressurreição”. (J. Strong). Aonde o sufixo “anastasis” é ocorre mais vezes nas passagens bíblicas do NT; que quer dizer “ato de levantar, levantar-se, ressurreição dos mortos”. (J. Strong). Em suma, ressurreição dizer que os mortos levantarão da terra, do sepulcro, do pó, da onde ficaram quando morreram. Negar isso é negar a ressurreição de Jesus. Seremos as pessoas mais infelizes dessa vida, seria vã a pregação da igreja, vã a fé de todos os cristãos e fazemos dos apóstolos de Cristo falsas testemunhas (ver 1Co.15.12-21).

  3. ... na vida eterna. Amém”. Esse assunto foi um dos temas mais citados por Jesus (ver Jo.5.24; Jo.11.25; Jo.3.36) o tanto quanto o inferno (Mt.25.41; Mt.23.33; Lc.16.23; Mt.10.28). Ele, na posição e mérito de Salvador, não poderia fugir aos dois temas. Uma verdade crua que as pessoas não podem viver naquele pensamento infantil de céu, aonde os bons vão pra lá. Quando na verdade Jesus é o Salvador; e o ser humano é o pecador condenado (ver Rm.3.23; 6.23; 1Jo.1.8). E sua condenação é porque o ser humano não é bom! (ver Mt.7.11). Toda bondade humana é fruto da graça de Deus, seja salvadora (ver Ef.2.10), seja a comum (ver Tg.1.17). Logo, a vida eterna é impossível para as pessoas, somente em Jesus elas podem tê-la. (ver Lc.18.18-27). É como se fosse assim: Jesus tem um único convite para o céu, para a eternidade, e mais ninguém. Entretanto, ele usa o seu próprio convite para colocar todos os quantos creem para dentro. A herança da vida eterna não é uma questão de uma pessoa ser boa ou má, mas de Cristo ser o Salvador. Só ele é digno. (ver Sl.24.3-10; Ap.5). E por ele, temos a vida eterna (ver 1Jo.5.11). “Amém”, que quer “em verdade, verdadeiramente, assim seja”. (J. Strong). Uma palavra hebraica sem tradução, vinda direta do hebraico para os idiomas posteriores. Amém é uma inteira concordância com o que foi dito é verdade, que é digno de fé e que assim seja ou se cumpra.

Por Daniel Durand (ThB), ministração em cultos online da igreja em que pastoreia realizada durante a pandemia em 2021.