Pontos a considerar sobre o debate:
1) O apresentador do programa pede ao “apóstolo” para dar um exemplo bíblico sobre cobertura espiritual. Então ele se aproveita da cena de abertura do programa onde fala da batalha de Refidim, conforme Êxodo 17.8-13. Que registra Moisés segurando a vara e fica a interceder pelo povo de Israel até o fim da batalha. Porém, o texto está fora de contexto da realidade de liderança cristã. Pois, Moisés não era só um líder espiritual do povo de Israel, mas ele era um mediador. E dentro da Nova Aliança essa atribuição desaparece. Jesus Cristo assume plenamente e suficientemente essa atribuição (ver 1Tm.2.5).
2) Embora o “apóstolo” no debate diga que a doutrina da cobertura espiritual não fere o princípio da reforma protestante do sacerdócio universal dos crentes (ver 1Pe.2.5,9). Se “cobertura espiritual” significar orar pedindo a Deus proteção por si mesmo e por outras pessoas, ok! Mas, quando um líder se coloca como alguém exclusivo que dar essa “cobertura espiritual” aos seus liderados ele atropela o sacerdócio de todos os crentes. Pois, o liderado pode orar pelo seu líder o tanto quanto este ora pelo seus liderados, onde Cristo é o intercessor dessas orações junto ao Pai (Hb.7.25b). A Bíblia fala de Paulo pedindo oração dos irmãos pela vida dele (ver 1Ts.5.25; 2Ts.3.1). Mais adiante, Tiago fala dos cristãos orarem uns pelos outros (ver Tg.5.16). E essa proteção quem dar é Jesus e não o homem. O cristão apenas ora.
3) Analisando o que foi falado no debate, a cobertura espiritual é uma proteção espiritual. Pois, a palavra “cobertura” quer dizer “cobrir”, que significa “encobrir ou proteger algo ou alguém” (2). A proteção que o pastor dar as ovelhas de seu rebanho é de natureza apologética e moral. Entretanto, a proteção que propõe os divulgadores dessa nova doutrina vai além disso. Como vemos nas exposições do debate. Nesse caso, contradiz a Bíblia, que nos diz: “...Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca”. (1Jo.5.18). E também: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”. (Jo.10.28). É só ler o Salmo 91 para percebermos que essa proteção quem nos dar é Deus.
4) O “apóstolo” diz no debate que a palavra “aperfeiçoamento” encontrada em Efésios 4.12 quer dizer “restaurar”, “treinar”, “capacitar”. Entretanto, temos algumas observações que precisam ser dadas aqui. A primeira é que em nenhum momento essas palavras querem dizer “cobrir” ou “proteger” espiritualmente a vida de alguém. A segunda, é que a palavra “aperfeiçoamento” vem do grego “katartismos” que pode significar tanto “capacitação” quanto “aperfeiçoamento” (3), mas não aparece o significado de “restaurar” ou “treinar”. A terceira, é que essa palavra “restaurar” quer dizer “Pôr em bom estado, consertar, refazer, reparar” (4) não é papel do homem, mas do Espírito de Deus. Ele é quem restaura as nossas vidas. Em Tito 3.5 o apóstolo Paulo fala do lavar “renovador” do Espírito Santo. Vem da palavra grega “anakainosis” que quer dizer: “restauração, renovação, completa mudança para melhor” (5). A quarta, é que “aperfeiçoamento” não quer dizer “cobertura” ou “proteção” espiritual. A quinta, é que os dons de “apóstolos e profetas” já fizeram a sua parte em fundamentar a igreja de Jesus. Isto é, de acordo com Efésios 2.20 (correlato de Ef.4.11) esses dons lançaram os “fundamentos, bases, princípios básicos” que já estão na Bíblia. É uma palavra grega (themelios) que está presente no referido texto que tem esses significados e que tem um sentido metafórico, figurado de “fundamento”. A igreja não precisa de apóstolos e profetas agora, ela já está fundamentada na Palavra e sobre a pedra que é Cristo, o que ela precisa é de evangelistas, pastores e mestres para continuar a sua edificação com base na Palavra e em Jesus Cristo. Não tem mais a necessidades de novos fundamentos, novas bases ou princípios básicos.
5) No final de debate, o “apóstolo” acaba mudando a palavra “cobertura” para “fundamento” causando uma confusão na conversa. Pois, como vimos anteriormente, o fundamento foi dado pelos “apóstolos e profetas” de onde temos sua origem a Bíblia Sagrada. O que temos a acrescentar além do que os apóstolos e profetas já deixaram na Bíblia? Isso é ainda pior do que a palavra “cobertura”. Isso fere o que os reformadores diziam: Sola Scriptura (somente a Escritura) princípio extraído da própria Bíblia, onde encontramos várias citações (ver Dt.4.2; Pv.30.5,6; 1Co.4.6; Ap.22.18,19). Os evangelistas, pastores e mestres vão trabalhar o que foi fundamentado pelos apóstolo e profetas. Como está escrito sobre a igreja primitiva: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...”. (At.2.42). E os apóstolos faziam menção aos profetas quando anunciavam Jesus.
6) Finalmente, tem um momento do debate em que o apresentador do programa faz uma pergunta ao pastor presbiteriano: “E o pastor faz o que? Só ora?” E infelizmente o pastor que é professor de seminário na área de Teologia Pastoral deixou a desejar. Mas, respondendo ao questionamento, dentro do contexto da Nova Aliança, os líderes cristãos, seja pastor, bispo ou presbítero (são palavras primas, ver At.20.17,28) eles vão cuidar do rebanho do Senhor. E esse “cuidar” envolve: supervisionar, administrar, capacitar, alimentar, guiar e proteger (apologeticamente e moralmente), jamais proteger espiritualmente.
Referências:
(1) Vídeo do debate na íntegra: https://youtu.be/BNOVCDiWLkM
(3) Dicionário grego Strong
(5) Dicionário grego Strong
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