Boa
parte dos trechos bíblicos colocados pelos pastores neopentecostais estão fora
de contexto ou isolados do resto da Bíblia. Desconsiderando o que o autor o
escritor do texto quis dizer.
Esses
erros de interpretação aparecem por várias causas. Podemos citar aqui três
causas basilares dos equívocos desses líderes religiosos:
1) Um total ou parcial descuido da exegese bíblica;
A exegese é resultado de um estudo
cuidadoso de passagens bíblicas. Vindo do texto bíblico para a mente do
estudante das Escrituras, que por sua vez ele transmite a seus ouvintes.
Qualquer postura vinda da mente do estudante das Escrituras para interferir no
texto bíblico para que depois se tire uma conclusão a ser transmitida a seus
ouvintes não será mais exegese, porém uma eisegese. Isto é, uma interpretação
vinda de fora para dentro das Escrituras. Esse descuido é muito peculiar no
conteúdo das interpretações de pastores neopentecostais. Por isso que muitos
cristãos acabam caindo em laços do engano e ficam paralisados no caminho da
salvação.
2) Abandono dos princípios de interpretação da Bíblia;
O fracasso da exegese bíblica acontece
por causa do desprezo que se dar a hermenêutica bíblica. Onde seus princípios
são violados. Daí não tem como remendar os buracos que ficam. Não que a
hermenêutica bíblica seja uma ciência exata, pois quando a Bíblia Sagrada não
fecha um determinado assunto ela não poderá solucionar ou elucidar tal assunto.
Ela dependerá do que “está escrito”. A partir daqui não se faz mais teologia,
mas uma teodisséia. Todavia, nos assuntos em que a Bíblia Sagrada dar
fechamento, devemos tomar muito cuidado para que nossa homilia não venha a ser
“palavras do homem”. E é na hermenêutica bíblica, com o auxílio de seus
princípios de interpretações, que se evita os equívocos da Palavra de Deus.
3) O abuso de aplicações pessoais.
Uma das grandes tentações da homilia são
as aplicações pessoais. O pastor ou pregador que vai ministrar deve tomar muito
cuidado com as “viagens” da imaginação. O texto bíblico pode ser comprometido
de maneira tal que não será mais Palavra de Deus. Poderá ser qualquer outra
coisa menos a mensagem de Deus. Daí o surgimento de tantas bizarrices, modismos
e heresias em nosso tempo.
Só nessas três causas podemos ver que o
texto bíblico, o verdadeiro sentido do autor sagrado, se irá como fumaça. Logo,
esses pastores ou pregadores neopentecostais estejam citando a Bíblia, não
estão expondo a Palavra de Deus, mas “palavras de homens” e se não vigiarem
poderão estar expondo até “doutrinas de demônios”. O apóstolo Paulo já havia
advertido a igreja de Cristo sobre isso: “Ora, o Espírito afirma expressamente
que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios.” (1Tm.4.1). Creio que todos cristãos
conhecem esse texto, mas será que tomam o devido cuidado? É muito fácil
manipular o texto bíblico desconsiderando os exemplos aqui citados.
O PECADO DA CONIVÊNCIA
Antes de avançar no tema aqui desse
texto, gostaria aqui de abrir um parêntese, e admoestar o povo de Deus
espalhado pelo mundo. Especificamente os cristãos brasileiros. Antigamente
(aproximadamente há uns trinta a quarenta anos atrás), quando nos deparávamos
com certas pregações equivocadas em nossos púlpitos e mídias, eram até toleráveis,
pois resultavam muito mais de despreparo do pregador do que da intenção
consciente de transmitir o equívoco. Daí nós citávamos aos queixosos o texto de
1Ts.5.21 onde diz: “julgai todas as coisas, retende o que é bom”. Diferente de
hoje, onde há muito equívocos, e até graves. Mas, alguns cristãos incautos
ficam a citar o mesmo texto de 1Ts.5.21. Ora, tenho certeza que o apóstolo
Paulo não escreveu esse texto para tolerarmos todo tipo de equívocos. Hoje,
estamos no meio de um lixão de heresias, modismos e equívocos e aplicando esse
texto inutilmente. Por isso escrevi um texto explicativo sobre 1Ts.5.21. Veja aqui . Chega de conivência! Temos que tomar uma decisão: queremos beber água
limpa e comer comida saudável! Chega de mendigar a Palavra de Deus desses
lixões. A mesa do Jesus é farta e sua comida é de boa qualidade.
O fato é que estamos sendo coniventes
com muitos erros, e precisamos denunciá-los! Ninguém é dono da verdade. Mas,
pode ter certeza, quem conhece as Escrituras sabe discernir os equívocos da
verdade bíblica! E creio que devemos usar o que sabemos para ajudar a igreja de
Cristo. O apóstolo Paulo fala dos mestres da igreja citando-os em Ef.4.11
juntamente com os apóstolos, profetas, pastores e evangelistas. E
semelhantemente tem o papel de contribuir na edificação da igreja do Senhor
Jesus (ver v.12). Em outra carta ele coloca o mestre no pódio da lista dos dons
mais importantes da igreja de Cristo (ver 1Co.12.28).
Em fim, o povo cristão não deve ficar
amenizando as intempéries de uma teologia corrompida e interpretações
descabidas das Escrituras. O profeta já advertia: “Ai dos que ao mal chamam bem
e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo
por doce e o doce, por amargo!”. (Is.5.20).
FECHANDO PARÊNTESE
Bem, voltando ao tema, vejo que a
igreja evangélica brasileira se expõe ao ridículo diante do mundo. Pois os
pastores e líderes mais conhecidos nacionalmente são de linha neopentecostal, e
o que é pior, não consegue pronunciar uma frase sem que tenha de colocar uma
interpretação particular da Bíblia Sagrada ou fazer uso de psicologia ou de
sugestão mental ou de jargões da auto-ajuda ou uso de modismo ou heresias.
Exportando para o mundo o que temos de pior.
Fico decepcionado com esses pastores,
que alguns até fizeram seminário de teologia, mas de nada valeu o que
aprenderam se é que aprenderam. Se eu fosse professor de homilética e
hermenêutica deles jamais concluiriam o curso.
Esses artistas do púlpito brasileiro
tipo: Edir Macedo, R.R. Soares, Renê Terra Nova, Valnice Milhomens, Robson Rodovalho,
Valdemiro Santiago, Jorge Tadeu e tantos outros. Fazem o palco das bizarrices
do mau uso da Bíblia Sagrada. Muitos desses são produtos da influencia dos
falsos mestres estrangeiros tipo: Kenneth Hagin, Essek Kanyon, Kenneth Copeland,
Benny Hinn, David Robertson, Oral Robertson, Fred Price, Paul Crouch, Morris
Cerullo, Betty Tapscott, etc. Isto é, apenas repetem o que esses falaciosos
dizem
DIRETO AO ASSUNTO
Vejamos aqui algumas dessas
interpretações equivocadas que são comumente citadas em TV, rádio e mídia no
geral.
JOÃO 14.12
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará
as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”.
(versão ARC)
Reflexões exegéticas:
Que “obras” são essas que Jesus disse?
O termo “obras” está aqui como “milagres”? É isso? Jesus está dizendo que os
seus seguidores fariam milagres maiores do que os dele? Quem, exceto Jesus, fez
uma figueira secar só com uma palavra? Ou transformou água em vinho? Ou
multiplicou os pães e peixes? Ou andou sobre as águas? Ou fez prodígio maior do
que esses? O ministério de Jesus tinha como foco: milagres ou salvação?
Resposta apologética:
Claro que Jesus não se referia a quem
fazia “milagres” semelhantes ou maiores, se não o escritor do evangelho teria
usado palavra grega “teras” (prodígio, milagre). O termo traduzido por “obras” vem
do grego bíblico “ergon”; e sugere ao contexto “serviço” ou “ministério”. Essa
mesma palavra se repete no contexto no verso 10 e 11. Num Jesus diz que o pai “é
quem faz as obras” (serviços) e no outro ele afirma que faz as “mesmas obras” (serviços).
E termina dizendo no verso 12 que aos seus seguidores: “também fará as obras [serviços]
que eu faço”. Onde acrescenta que eles fariam obras (serviços) “maiores do que
estas”.
Note que há uma seqüência de
realizações vinda de Deus (o Pai), Jesus (o Filho) realiza igualmente e seus
discípulos também, e que fariam maiores. E no final do verso ele explica porque
essas obras (serviços) seriam maiores: “porque eu vou para junto do Pai”. O que
isso quer dizer?
Quando Jesus foi para junto do Pai ele
consumou na cruz a “oferta pelo pecado” (ver Hb.10.12 e 1Co.15.3) e passou a
ser o mediador de uma nova aliança ao lado de Deus (ver Hb.9.15), que até
então, quando falava e estava naquele momento sob o vigor ainda da antiga
aliança. O serviço do Pai, do Filho e da Igreja representada nos apóstolos está
claramente definido como SALVAÇÃO. O Pai e o Filho não tinham o ministério de
realizar milagres, embora esses acompanhassem em várias ocasiões. Mas, em toda
a Bíblia Sagrada, o ministério de Deus é SALVAR A HUMANIDADE CAÍDA.
O próprio Jesus, como seu nome diz:
Yahveh é a salvação. Ele afirmou porque veio ao mundo: “Porque o Filho do Homem
veio buscar e salvar o perdido”. (Lc.19.10). Realizar prodígios não era o foco
do ministério de Jesus; o apóstolo João desintegra essa falsa interpretação no
famoso texto de João 3.16.
Em fim, o serviço ou obra do Pai, que o
Filho também faz e que os seus discípulos (a igreja) também fazem e que fariam
MAIORES. Não são milagres, e nem maior em “qualidade”, pois o texto não diz “obras
melhores”. Essa “obra”, ou “serviço”, ou “ministério”, é da “salvação”. E que
faríamos maiores (em quantidade) por ter sido inaugurada na cruz com a ascensão
vitoriosa de Jesus aos céus e passa a ser o mediador de uma nova aliança no
céu. Pois, todos os mediadores das alianças anteriores representavam-nas na
terra, mas Jesus está no céu, dando uma amplitude ministerial de salvação aos
seus seguidores do que antes. Veja as palavras de Cristo a Pedro: “Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o
que desligares na terra terá sido desligado nos céus”. (Mt.16.19). Que veio a inaugurar
a partir da descida do Espírito Santo, quando esse mesmo Pedro evangelizou e: “Então,
os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele
dia de quase três mil pessoas”. (At.2.41).
Portanto, a interpretação de João 14.12
focada em “milagres” foge ao contexto bíblico, isola o ministério de Jesus a
mero curandeirismo. E exalta o ser humano a ser maior do que Deus ou como
deuses. A Palavra de Deus já profetizava sobre isso: “Porque virão muitos em
meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos”. O termo grego que
traduzimos para “Cristo” significa “ungido” (christus). Assim tem sido hoje,
muitos vêem em nome de Jesus afirmando: “eu sou ungido (Cristo)” e estão
enganando a muitos.
ISAÍAS 53.4
“Certamente, ele tomou sobre si as
nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por
aflito, ferido de Deus e oprimido”. (versão ARA).
Reflexões exegéticas:
Ninguém mais adoeceu depois da cruz de
Jesus Cristo? Existe algum cristão na face da terra que nunca adoeceu? A
salvação foi consumada na cruz? Uma boa parte das mortes de cristãos ou não,
ocorrem por causa de enfermidades, se Jesus já levou na cruz todas as
enfermidades, porque morremos?
Resposta apologética:
O referido texto profético não se
refere a crucificação de Jesus. Mas, ao seu ministério terreno antes de sua
crucificação. Onde nesse ministério, que era de SALVAÇÃO (como vimos acima), acompanhava
a realização de curas das enfermidades por ser obra também da salvação: “restaurar
o que a queda causou” que incluem as enfermidades (ver Lm.3.39; Sl.38.3,4).
Note que quando Jesus curava alguém ele dizia: “... Tem bom ânimo, filha, a tua
fé te salvou...”. (Mt.9.22). “... Vai, a tua fé te salvou...”. (Mc.10.52). “...
Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. (Lc.17.19). Isso ocorre porque curar
alguém na visão bíblica neo-testamentária não era um mero ato de curandeirismo,
mas uma amostra do que vai acontecer na eternidade, na salvação plena de Jesus
Cristo quando ele vier restaurar todas as coisas.
Voltando ao texto em apreço, quando
Isaías falava isso ele se referia ao ministério terreno de Jesus antes da cruz
como eu já disse. O apóstolo Mateus ao ver Jesus cumprindo o seu ministério de
salvação e ver as enfermidades do povo indo embora ele cita essa profecia de
Isaías em sua narrativa biográfica de Jesus Cristo dizendo:
“E, chegada a tarde, trouxeram-lhe
muitos endemoninhados, e ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e
curou todos os que estavam enfermos, para que se cumprisse o que fora dito pelo
profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as
nossas doenças”. (Mt.8.16,17).
Portanto, o texto de Isaías 53.4 não se
refere a crucificação de Jesus. O verso 5 e o 10 é que faz menção a
crucificação.
MATEUS 10.8
“Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli
demônios; de graça recebestes, de graça daí”.
Reflexões exegéticas:
Esta ordem de Jesus foi para os
discípulos primordiais dele ou para a igreja dele que nem havia sido edificada
ainda? Os discípulos primordiais de Cristo estavam representando a igreja de
Cristo nessa ocasião ou estavam representando o ministério de Cristo já que ele
não podia se deslocar de uma vez só para todos os cantos e por isso comissionou
os 12 discípulos para representá-lo? Se a primeira parte do trecho é para os nossos
dias então porque a segunda onde diz “de graça recebestes, de graça daí” os pastores
neopentecostais exploram tanto a petição de dinheiro ao povo? Onde cobram
quantias em dinheiro em benefício da cura ou do milagre?
Resposta apologética:
Está claro pelo contexto dos evangelhos
que, enquanto esteve na terra antes da cruz, o ministério que Jesus Cristo
exercia não era da igreja, mas o seu próprio. Ele estava debaixo da antiga
aliança, enquanto que a igreja é pertencente à nova aliança. O relacionamento
de Cristo é com Israel nesse momento e não com a igreja. Quando ele faz esse
pronunciamento aos seus discípulos primordiais ele diz no contexto: “... procurai
as ovelhas perdidas da casa de Israel”. (idem v.6). Quando Jesus fala da igreja
durante o seu ministério terreno ele usa o verbo edificar no futuro, observe: “...
edificarei a minha igreja...”. (idem 16.18).
Portanto, não havia igreja ainda, e
assim a ordem dada aos discípulos primordiais não se estende a igreja, mas
resume-se ao ministério de Cristo na terra. A igreja de Cristo vem a existir
formalmente no dia de pentecostes na descida do Espírito Santo (após a cruz). Essas
realizações são relacionadas à igreja numa outra perspectiva em Mc.16.17,18. Texto
que será analisado a seguir.
MARCOS 16.17,18
“Estes sinais hão de acompanhar aqueles
que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em
serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se
impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”.
Reflexões exegéticas:
Jesus faz aqui alguma ordem semelhante
a de Mateus 10.8? Quem segue quem, os sinais seguem os que crêem ou os que
crêem seguem os sinais? Onde está escrito depois da crucificação Jesus
ressurreto afirmando que todos estes sinais acompanhariam a igreja até sua
volta? Quando algum desses sinais não seguirem os que crêem, tem haver com
falta de fé dos que “crêem” ou tem haver com a vontade e Deus? Quando Jesus
fala “se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados” isso é
automático ou depende da vontade de Deus? Até onde este trecho das Escrituras é
considerado como palavras de Cristo e narrativa original de Marcos sabendo que
do verso 9 ao 20 de Marcos 16 não constam nos manuscritos mais confiáveis e
mais antigos da Bíblia Sagrada? Existe outra passagem fora essa que fala da
igreja ter esses sinais acompanhando como está aqui em termos universais?
Resposta apologética:
Talvez alguém diga que além de
Mc.16.16,17 existem dezenas de referências em Atos dos Apóstolos (At.2.43;
4.30; 5.12; 6.8; 8.6,13; 14.3; 15.12); nas cartas de Paulo aos Coríntios (2Co.12.12)
e aos Romanos (Rm.15.19) em que falam desses sinais e prodígios citados no
texto em apreço. Todavia, a data em que o livro de Atos dos apóstolos foi
escrito (em 63 d.C) antecede ao evangelho de Marcos (em 65 d.C). As cartas de
Paulo a Coríntios são bem mais antigas ainda (em 56 e 57 d.C.); bem como Romanos
(em 58 d.C.). Que por sinal 1a Coríntios foi o segundo texto escrito do Novo
Testamento. Pois a igreja até o ano 50 d.C. não tinham produzido nenhum texto
relacionado a biografia de Jesus ou dos apóstolos ou da relatando sobre a vida
da igreja cristã ou carta emitida. É óbvio que se conste em seu texto tudo
aquilo que houve após o acontecido no dia de pentecostes que marca o início do
ministério do Espírito Santo. Por isso que em 1Co.12.1-11; 28-30 Paulo cita tanto
esses dons cheios de milagres e prodígios. Não porque fossem tão importantes,
mas que a referida igreja dava essa importância, daí o motivo de Paulo os
admoestar no verso 31: “Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. E eu
passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente”. Ele usa a palavra
grega “zeloo” que está no indicativo, e significa “arder em zelo, procurar”
isso significa que Paulo não está ordenando eles buscarem os melhores dons, ele
está indicando que eles fazem isso, mas que deveriam procurar algo melhor cujo
ele vai discorrer no capítulo 13 que é o “agape” (amor).
2CORÍNTIOS 9.6
“E isto afirmo: aquele que semeia pouco,
pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará”.
Reflexões exegéticas:
Esse texto é muito usado por aqueles
que querem insuflar o povo a contribuir com suas denominações e ministérios. Ao
invés de trabalhar a generosidade e fidelidade do povo, preferem dar um
estímulo a cobiça e a ganância. Mas, será que o apóstolo Paulo também tinha
isso em mente? A quem ele se refere? A Deus ou aos pobres?
Resposta apologética:
O contexto desse capítulo 9 de
Coríntios retrata de oferta das igrejas da Macedônia para os cristãos pobres da
Judéia e não para que entregando ofertas a Deus os cristãos venham a barganhar
algum benefício ou lucro. Veja: “... a graça de participarem da assistência aos
santos”. (2Co.8.4).”Suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles...”.
(idem v.14). Chegando no capítulo 9, Paulo continua: “... assistência a favor
dos santos...” (2Co.9.1). “... julguei conveniente recomendar aos irmãos... e
preparassem de antemão a vossa dádiva...”. (idem v.5). “Porque o serviço desta
assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas
graças de Deus”. (idem v.12).
O texto de 2Co.9.6 torna-se uma clara
harmonia bíblica com os textos de: Tg.2.15,16; At.2.45; 4.34,35. As palavras de
Paulo são uma repetição de Pv.19.17: “Quem se compadece do pobre ao SENHOR
empresta, e este lhe paga o seu benefício”. Ele falava de ajuda aos pobres e
não de dízimos e ofertas entregues a Deus. Quem entrega algum valor a Deus não
está emprestando nada e nem muito menos dando. Na verdade está “devolvendo algo
que pertence a Deus”, sendo, portanto, inadmissível a aplicação que é feita
usando 2Co.9.6 para tal. Reflexão: “Minha é a prata, meu é o ouro, diz o SENHOR
dos Exércitos”. (Ag.2.8). “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se
contém, o mundo e os que nele habitam”. (Sl.24.1).
ATOS DOS APÓSTOLOS 19.11,12
“E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia
milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do
seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os
espíritos malignos se retiravam”.
Reflexões exegéticas:
Os exemplos bíblicos devem ou não ser
aplicados em nossos dias? Os pregadores da teologia da prosperidade fazem uso
desse texto para respaldar o grande uso de objetos, apresentado ao povo como
verdadeiros “amuletos”, que variam de sabonete ungido até a toalhinha.
Resposta apologética:
Os exemplos bíblicos só têm autoridade
prática quando amparados por uma ordem que os faça mandamento universal. É um princípio
hermenêutico. Portanto, para que cada exemplo bíblico tenha aplicação prática,
temos que ter ordem bíblica clara, explícita, para que venhamos praticá-lo.
Exemplo claro disso é a dita passagem de At.19.11,12. Esse texto não tem uma
ordem que faça mandamento universal para que apliquemos hoje. Diferente do
exemplo da celebração da ceia de Jesus com seus discípulos, ele disse: “Fazei
isto em memória de mim”. (Lc.22.19 e 1Co.11.24,25).
TIAGO 3.10
“De uma só boca procede bênção e
maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim”.
Reflexões exegéticas:
Os lunáticos da teologia da
prosperidade vendem a mensagem de que o homem é como Deus. E essa passagem é
usada para mostrar aos incautos que tudo o que o ser humano diz tem um efeito
positivo ou negativo. Definição da confissão positiva. Mas, será que Tiago
tinha isso em mente quando escreveu a carta?
Resposta apologética:
As palavras "bênção" e
"maldição" no verso 10 são "eulogia" e "katara".
A primeira palavra quer dizer: "louvor, enaltecimento, gratidão". A
segunda palavra quer dizer: "execração, imprecação, maldição". Onde
infelizmente os tradutores colocam o último significado e sem seguir a
continuação do raciocínio que está no verso anterior (v.9). As palavras
"bendizemos" e "amaldiçoamos" no verso 9 são
"eulogeo" e "kataraomai". A primeira palavra quer dizer:
"louvar". A segunda quer dizer: "amaldiçoar ou condenar".
Onde os tradutores também infelizmente colocam apenas o primeiro significado.
Mas, o contexto é claramente favorável ao "condenar". Onde seria:
"Com ela, louvamos ao Senhor e Pai; também, com ela, condenamos os homens,
feitos à semelhança de Deus". Ora, se o verso 9 está falando de
"condenar" o verso 10 deveria seguir a mesma linha: detestar,
abominar.
A palavra "kataraomai" que
estar no verso anterior (v.9) tem concordância bíblica com Mt 25.41, Mc 11.21,
Lc 6.28, Rm 12.14 que abordam a mesma coisa: “condenação”. Logo, o verso 10
deveria terminar com o mesmo pensamento. Que seria: "De uma só boca
procede louvor e execração (ou abominação)...". Em fim, não tem nada haver
com as interpretações neopentecostais de jogar feitiço em alguém ou que
palavras tenham poderes mágicos.
PROVÉRBIOS 18.21
“A morte e a vida estão no poder da
língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”.
Reflexão exegética:
Será que podemos usar a língua para que
algum mal ou bem venha a ser jogado sobre algo ou alguém?
Resposta apologética:
Não tem base nenhuma para o que o
neopentecostalismo ensina sobre poder das palavras. A palavra “poder” nesse
texto está no hebraico “yad” que é uma figura ou linguagem figurada de poder.
Não há poder espiritual ou cósmico nenhum na língua, o escritor bíblico está
apenas expressando como se tivesse. Nesse caso, está no sentido de “caluniar,
difamar, maldizer, condenar” (tipo: Ec.8.4). As palavras hebraicas que se
significam “poder” espiritual ou cósmico literalmente são: “El” (Gn.31.29) e
“koach” (Êx.9.16). Quando Jesus trata com a figueira, a palavra dele foi de
maldição, mas no sentido de “condenação”. Veja: “E, vendo de longe uma figueira
com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se
dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos. Então, lhe disse
Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti! E seus discípulos ouviram isto”.
(Mc.11.13,14). Mais adiante Pedro relata: “Então, Pedro, lembrando-se, falou:
Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste secou”. (idem v.21).
Só quem tem o poder de condenar
(amaldiçoar) alguém é Deus. A palavra é clara: “... não condeneis e não sereis
condenados; perdoai e sereis perdoados”. Lc.6.37
MATEUS 17.20
“E ele lhes respondeu: Por causa da
pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão
de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada
vos será impossível”.
Reflexão exegética:
Será que Jesus falou isso no sentido de
que podemos remover todos os obstáculos da vida com a nossa “palavra de fé”?
Resposta apologética:
O contexto bíblico deve ser sempre contabilizado
na interpretação. Quando alguém cita um texto desprezando o seu contexto sempre
fará uma interpretação subjetiva da Palavra de Deus. E quanto a isso, a mesma
palavra nos admoesta: “sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da
Escritura provém de particular elucidação”. (2Pe.1.20). Respondendo a pergunta:
O verso 19 nos diz que os discípulos de Jesus lhes perguntam por que não
conseguiram expelir o demônio. Logo, a resposta de Jesus vai dentro desse
contexto. Expelir demônios é algo relacionado ao reino de Deus. Coisas
espirituais e não materiais. Em fim, o que Mateus 17.20 está querendo nos
ensinar que temos de usar a fé, por menor que seja. Para removermos os
obstáculos espirituais que estiverem em nossa frente quanto à obra de Deus.
MARCOS 11.23
“porque em verdade vos afirmo que, se
alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu
coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele”.
Reflexão exegética:
Será que Jesus se refere aqui a uma “palavra
de fé”?
Resposta apologética:
Não, Jesus apenas reforça que a nossa
confiança em Deus tem que ser inabalável. Pois qualquer que seja a oração feita
a Deus, tem que haver confiança que ele fará o melhor para nossas vidas segundo
a sua vontade. Ele nos ensinou a orarmos: “faça-se a tua vontade, assim na
terra como no céu” (Mt.6.10). E o apóstolo João nos ensina: “E esta é a
confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua
vontade, ele nos ouve”. (1Jo.5.14). A expressão “ergue-te e lança-te no mar”
era utilizada na época pelos grandes rabinos que podiam resolver problemas
difíceis e aparentemente fazer o impossível. A metáfora empregada a tais
rabinos era de “levantador de montanhas”. Por isso, Pedro o chama de “Rabi” (Mc.11.21),
impressionado com a figueira que secara por Jesus tê-la condenado (idem v.12-14,20).
Jesus toma dessa expressão para dizer aos cristãos que eles confiassem
sinceramente em Deus e no seu poder ilimitado para que suas preces fossem ouvidas.
CONCLUSÃO
Infelizmente a cada época aparecem
dessas pessoas que distorcem as Escrituras como bem já havia relatado o
apóstolo Pedro:
“ao falar acerca destes assuntos, como,
de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas
difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também
deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois,
amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que,
arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza;
antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno”. (2Pe.3.16-18).
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